O texto de orelha do livro é de Antonio Prata, que nos faz ficar com vontade de ler o livro hoje mesmo:
"Se o mundo fosse justo, Fernanda Torres escreveria mal – e não
haveria nada de errado nisso. Uma das maiores atrizes brasileiras, bonita, bem
casada, filha de Fernando Torres e Fernanda Montenegro, mãe de dois filhos – “e
magra”, lembra minha mulher -, receberíamos seus textos como quem vê Bill
Clinton tocar saxofone, Chico Buarque jogar futebol, Paul McCartney expor uma
de suas telas: eles são bom em outras áreas, deixem que se divirtam à toa,
vai...
Acontece que Deus foi bem pouco equânime aos aspergir
talentos sobre esta pobre humanidade: enquanto a maioria de nós se esforça para
fazer, mal e mal, uma coisa só, Fernanda Torres vem mostrando como escritora o
mesmo talento que a consagrou como atriz. Se fosse acometida por um “stage
fright”, o pânico de entrar em cena que abordou em sua primeira matéria para a
revita Piauí, poderia dar a costas à ribalta e viver da pena Viver bem, aliás:
seu romance de estréia, Fim (2013), foi elogiado pela crítica, vendeu mais de
100 mil exemplares e por várias semanas figurou como único representante
tupiniquim nas listas de best-sellers do país.
Seta anos, seu segundo livro, traz uma seleção de colunas
escritas para a Veja Rio e a Folha de S.Paulo, além de matérias e perfis
publicados na Piauí. Os diferentes registros poderiam resultar numa obra
heteróclita, mas quer fale da filmagens de Kuarup, do julgamento do Mensalão ou
das contribuições do aspargo para a sexualidade humana, a voz de Fernanda
Torres se sobressai, garantindo a coesão do volume.
Trata-se de uma voz muito particular. Do jornalismo, ela
colheu as maiores virtudes – descrição objetiva, frases curtas e diretas, economia
de meios -, mas sem descambar para a secura ou se esconder atrás do cinismo,
como tantos que precisam emitir opiniões e não querem correr o risco de errar
e/ou se expor. Fernanda se expõe. Talvez por não temer o palco, por ser da
trupe de Dionísio, sob a escrita apolínea vai deixando aflorar sua visão de
mundo, seus medos e contradições, numa rara mistura que nos dá um conjunto de
ensaios curtos cheios de insights sobre o Brasil das últimas décadas e, ao
mesmo tempo, um conjunto de crônicas sobre esta mulher incrível que, fosse o
mundo justo, escreveria tão bem quanto Pelé atua.
Acontece que o mundo não é justo – neste caso: ainda bem." Antonio Prata.
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