2 de jun. de 2015

Resenha: Correr - O exercício, a cidade e o desafio da maratona


Bom, vou começar contando o motivo deste livro ter chamado a minha atenção já de cara: eu gosto de correr! Nos últimos dois anos eu descobri o esporte e participei de algumas corridas de rua de pequena distância (5k). Mas não consegui, até hoje, ter a disciplina necessária para aumentar a distância... Vira e mexe eu paro de treinar, recomeço tudo de novo e por aí vai. Então  já dá para entender como este livro foi proveitoso para mim, né? A disciplina do Drauzio é inspiradora, de verdade!

Vamos saber um pouco mais sobre este livro que foi lançado dias atrás pela Companhia das Letras:
O famoso Dr.Drauzio Varella conta o que o motivou a participar de uma maratona (para quem não sabe, a distância percorrida por um maratonista é de 42,195km). Vou estragar a surpresa e contar, pois achei demais: prestes a completar 50 anos, ele encontrou um amigo que não via há mais de trinta anos. Quando comentou a idade que tinha, o amigo, "bem animador" disse: "Ano que vem, cinquenta, idade em que tem início a decadência do homem". Com este comentário em mente, ele se propôs um desafio para provar que a decadência dele não teria início aos cinquenta anos: correr a Maratona de nova York. Nem vou considerar isto um spoiler, pois esta história está no início do livro, ok?

A partir daí, Drauzio vai contando com aquela linguagem simples e descontraída a que estamos acostumados dos seus quadros no programa Fantástico como foi seu treinamento, as dificuldades que enfrentou e sua primeira experiência como maratonista. Faz parte do livro o texto de um vídeo que circulou na internet e que foi mal interpretado por muitas pessoas que acreditaram que ele tinha uma visão negativa da corrida:

"Se ouço alguém dizer que acorda cheio de vontade para correr, nadar, pedalar ou levantar peso na academia, por educação fico calado, mas duvido que seja verdade" (....) Por que tanta gente reconhece que a atividade física é essencial para a saúde mas não consegue abandonar a vida sedentária? Por uma razão simples: praticar exercícios vai contra a natureza humana. (.....) os animais só gastam energia atrás de comida, sexo ou para fugir de predadores". Lido assim, fora do contexto pode até dar margem para erros, mas ele na verdade está dizendo que se esperarmos esta vontade louca vir, não sairemos do sofá nunca, pois ela não vem. Então, temos que ser decididos e deixar o sedentarismo para trás de uma vez por todas. Não ficar esperando um mágica que nos fará amantes do exercício de uma hora para outra. Só depois de sentimos os inúmeros benefícios é que vamos nos apaixonando e tornando a pratica mais prazerosa do que sofrida.

Adorei este relato, pois sempre vemos os adeptos a exercícios dizendo dos prazeres de treinar, de como o corpo é dominado por uma sensação incrível etc. Mas ninguém nos conta como é difícil começar, abandonar as delícias do ócio, dar o primeiro passo, não inventar mil desculpas esfarrapadas para ficar em casa. Isso sim é uma luta! Drauzio conta que o primeiro quilometro é um sofrimento só... eu me identifiquei muito com ele neste aspecto. "Passados mais de vinte anos, meu primeiro quilômetro ainda é dominado por um único pensamento: não há o que justifique um homem passar pelo que estou passando". Não é ótimo saber que alguém que já participou das principais maratonas do mundo sente o mesmo que você? Se isto não incentivar você a enfrentar suas barreiras, nada mais o fará kkk. Ele já me ganhou aí, no comecinho do livro.

Além dos relatos bem humorados de suas participações em maratonas famosas como a de Nova York, Boston, Chicago e Tóquio, Drauzio vai intercalando fatos e comentando importantes pesquisas sobre os efeitos da corridas no corpo humano. As principais lesões, os problemas mais comuns, riscos e benefícios. São os capítulos do livro intitulados de Intervalo.

As passagens em que conta os lugares do mundo em que já treinou (percebe-se que a corrida faz parte do dia-a-dia dele, não importando onde esteja, ele sempre procura um tempinho de calçar o tênis e correr) são uma delícia. Para quem já correu, não importa a distância, sabe a sensação de estar somente você, ali, passada após passada, vendo a paisagem e deixando o pensamento ir longe... Agora imagina fazer isso pelas lindas paisagens do Rio de Janeiro, entre os prédios do centro de São Paulo, em ruas desconhecidas de Miami ou em uma "ilha" formada por um enorme banco de areia no Rio Negro. Ele corre pelo lugares mais inusitados, como a primeira vez que cruzou a Cracolândia em São Paulo.

Ah, lá no começo do livro ainda, ele faz um relato (ou esclarecimento) histórico da famosa corrida do guerreiro que deu origem a Maratona:

"Sempre achei mal contada a história do guerreiro que correu de Maratona a Atenas para levar a notícia da vitória na batalha contra os persas. Segundo a lenda, o rapaz teria gastado seis horas para percorrer os tais 42 quilômetros, avisado que os atenienses haviam derrotado os persas e morrido de exaustão, depois de balbuciar o nome da deusa grega da vitória: Nike (...).. Se já é difícil acreditar que o soldado mais veloz do intrépido exército ateniense corresse tal distância em tempo tão medíocre, que dizer do vexame de cair morto?"

Para concluir, quero dizer que eu recomendo este livro não somente para todos os corredores amadores, mas para as pessoas que tem vontade de começar um esporte, não importando qual seja, que quer promover alguma mudança no estilo de vida, sair do sofá, buscar um benefício para a saúde e outros inúmeros motivos para ter uma vida mais saudável. Fica a lição de que é difícil começar, é difícil permanecer, mas que chega um ponto em que correr (e imagino que qualquer outro esporte também) se torna tão prazeroso, tão envolvente que você continua não só pela saúde, mas por já não conseguir viver sem. Hoje,  aos 72 anos, Drauzio diz:

"Quanto mais velho fico, mais prazer encontro em correr".


Correr - O exercício, a cidade e o desafio da maratona
Drauzio Varella
Companhia das Letras, 2015


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