25 de abr. de 2018

RESENHA: CANÇÃO DE NINAR

Canção de Ninar
Leïla Slimani
Tusquets/Planeta/2018

SINOPSE:
Apesar da relutância do marido, Myriam, mãe de duas crianças pequenas, decide voltar a trabalhar em um escritório de advocacia. O casal inicia uma seleção rigorosa em busca da babá perfeita e fica encantado ao encontrar Louise: discreta, educada e dedicada, ela se dá bem com as crianças, mantém a casa sempre limpa e não reclama quando precisa ficar até tarde. 

Aos poucos, no entanto, a relação de dependência mútua entre a família e Louise dá origem a pequenas frustrações – até o dia em que ocorre uma tragédia. 

Com uma tensão crescente construída desde as primeiras linhas, Canção de ninar trata de questões que revelam a essência de nossos tempos, abordando as relações de poder, os preconceitos entre classes e culturas, o papel da mulher na sociedade e as cobranças envolvendo a maternidade. Publicado em mais de 30 países e com mais de 600 mil exemplares vendidos na França, Canção de ninar fez de Leïla Slimani a primeira autora de origem marroquina a vencer o Goncourt, o mais prestigioso prêmio literário francês.

Canção de Ninar é uma história inquietante que já no início diz a que veio. Já na primeira frase, o leitor encontra ali o maior medo de todos os pais: a morte dos filhos. "O bebê está morto". E segue narrando o trabalho da polícia ao chegar ao apartamento onde Myriam e Paul viviam com os filhos Mila e Adam. 

Myriam era uma advogada promissora quando abandonou a carreira para cuidar de sua primeira filha, Mila, com total apoio do marido. Com a chegada do caçula, Adam, Myriam se vê cada vez mais envolvida na rotina familiar e afastada da vida profissional. Vista como privilegiada por poder acompanhar a infância dos filhos, não é assim que ela se sente. Mas como uma mãe pode dizer em voz alta que a maternidade não é responsável por 100% de suas realizações? Que ela gostaria de estar trabalhando e não enfiada 24 horas por dia com fraldas, chorros e brincadeiras infantis? Esse é um assunto delicado que a autora propõe para reflexão ao descrever a vida de Myriam. A sociedade cobra um posicionamento das mães, como que fosse absurdo ou falta de amor elas quererem trabalhar e não se dedicarem exclusivamente aos filhos. Dilemas e dúvidas das mães modernas... 

Mas chega o dia em que Myriam decide retomar sua carreira, mesmo não contando com total aprovação do marido. Um casal que nunca deixou as crianças aos cuidados de ninguém, começa um detalhado processo de seleção de babás. Nenhuma satisfaz as exigências dos pais, até que eles entrevistam Louise. A pequena e delicada Louise parece ser um presente do universo para eles. Dedicada, cuidadosa, experiente. Além de cuidar com carinho das crianças, ainda deixa o pequeno apartamento do casal arrumado e faz refeições deliciosas. Os amigos invejam o casal por terem alguém tão competente a serviço deles. E Louise vai cada vez mais se tornando indispensável na vida da família... 

Mas o que prende o leitor pelas 191 páginas, uma vez que no início da história já sabemos que a babá matou as crianças e tentou suicídio? Qual é o grande mistério? Bom, o que me prendeu foi justamente a incoerência de alguém tão dedicado ter atentado contra a vida das crianças pelas quais demonstrava carinho e cuidado. Onde foi que a coisa desandou? Em que momento a loucura de Louise se manifestou e por que? Embora em alguns momentos Louise deixe escapar algumas palavras ou atitudes que poderiam ser um alerta de um comportamento obsessivo, os pais não percebem que algo está errado. 

Canção de Ninar fala também da relação entre patrões e empregados, relações de dependência, diferença entre classes. Todos esses temas são abordados enquanto o leitor é conduzido a longo da história da família até o final trágico. 

Imagem relacionadaA autora, Leila Slimani, é uma escritora marroquina que vive em Londres desde os 17 anos. A inspiração para a tragédia que abate a família no livro veio de um caso real acontecido nos Estados Unidos, onde uma babá matou duas crianças, tentou se matar, mas sobreviveu e foi a julgamento.

Canção de Ninar deu a Leila o Prêmio Goncourt de romance, o mais prestigioso da França, em 2016 e a boa notícia para o leitores brasileiros é que a autora é presença confirmada na Flip 2018 que acontecerá de 25 a 29 de julho em Paraty. 

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