29 de abr. de 2018

Resenha: Antes da tempestade

Antes da tempestade
Dinah Jefferies
Paralela, 2017

SINOPSE:
Rajputana, Índia, 1930. Desde a morte de seu marido, a jovem inglesa Eliza tem como única companhia sua câmera. Determinada a se firmar como fotógrafa profissional, ela acaba de aceitar um convite do governo britânico para se hospedar durante um ano no castelo da família real local. Sua missão: fotografar, para o acervo da Coroa inglesa, a vida no Estado principesco de Juraipore.
Ao conhecer Jayant, irmão mais novo do marajá, Eliza embarca na aventura mais transformadora de sua vida. Acompanhada pelo príncipe rebelde e misterioso, ela conhecerá uma terra marcada por contrastes — com paisagens de beleza incomparável, cultura rica e vibrante e, ao mesmo tempo, a mais devastadora das misérias.
Enquanto Eliza desperta Jayant para a pobreza que circunda o castelo, ele mostra a ela as injustiças do domínio britânico na Índia. Juntos, descobrem uma afinidade de alma e uma paixão arrebatadora. Mas a família real fará de tudo — até o impensável — para impedir a aproximação entre o nobre indiano e a viúva inglesa.

Antes da tempestade é da mesma autora de O perfume da folha de chá (saiba mais clicando aqui) e tão bom quanto!

Nesse livro, Dinah Jefferies nos conta a história de Eliza, uma jovem viúva que retorna a Índia, onde passou parte de sua infância, para trabalhar como fotógrafa da família real do Estado principesco de Juraipore, durante a domínio britânico.

Apesar de bem recebida na família, Eliza se depara com diferenças culturais muito fortes. Ela passa a viver no palácio real, com a presença da concubinas do marajá, do opressivo Chatur, o principal representante da corte e da mãe do soberano, Laxmi. Apesar de Laxmi ser uma mulher com ideias e atitudes modernas, Eliza sente como nunca a inferioridade feminina e a insegurança de ser estrangeira em um país com cultura tão machista.

Logo na chegada, Eliza conhece o irmão do marajá, o interessante príncipe Jayant que passa a ser o acompanhante dela em suas saídas para fotografar. A relação de amizade dos dois vai se estreitando e ela percebe que Jay não é como os outros. Ele é gentil, com ideias revolucionárias e pensa no bem estar do povo que é ignorado por seu irmão. Mas como estamos falando de romance, é claro que amizade entre os dois vai muito além. Jay deverá se casar com uma princesa e sua relação com Eliza é totalmente impensável. 

Ao longo da história, enquanto Eliza e Jay vão se conhecendo e se inicia o romance entre eles, vamos também conhecendo detalhes da vida daquela época e região que são terríveis se pensarmos que aconteciam a menos de cem anos atrás. Um das passagens impactantes é quando Eliza e Jay testemunham a execução de uma mulher viúva. As viúvas eram tidas como mulheres que falaram em sua única missão: cuidar e zelar pela saúde e bem estar dos seus maridos. Dá para imaginar algo assim?

Antes da tempestade é uma história de romance proibido entre os protagonistas, com um cenário de belas paisagens e temperado com as diferenças culturais, manipulações políticas e situações opressoras e uma esperança de liberdade. 

Recomendo e já fico esperando o próximo livro da autora!






25 de abr. de 2018

RESENHA: CANÇÃO DE NINAR

Canção de Ninar
Leïla Slimani
Tusquets/Planeta/2018

SINOPSE:
Apesar da relutância do marido, Myriam, mãe de duas crianças pequenas, decide voltar a trabalhar em um escritório de advocacia. O casal inicia uma seleção rigorosa em busca da babá perfeita e fica encantado ao encontrar Louise: discreta, educada e dedicada, ela se dá bem com as crianças, mantém a casa sempre limpa e não reclama quando precisa ficar até tarde. 

Aos poucos, no entanto, a relação de dependência mútua entre a família e Louise dá origem a pequenas frustrações – até o dia em que ocorre uma tragédia. 

Com uma tensão crescente construída desde as primeiras linhas, Canção de ninar trata de questões que revelam a essência de nossos tempos, abordando as relações de poder, os preconceitos entre classes e culturas, o papel da mulher na sociedade e as cobranças envolvendo a maternidade. Publicado em mais de 30 países e com mais de 600 mil exemplares vendidos na França, Canção de ninar fez de Leïla Slimani a primeira autora de origem marroquina a vencer o Goncourt, o mais prestigioso prêmio literário francês.

Canção de Ninar é uma história inquietante que já no início diz a que veio. Já na primeira frase, o leitor encontra ali o maior medo de todos os pais: a morte dos filhos. "O bebê está morto". E segue narrando o trabalho da polícia ao chegar ao apartamento onde Myriam e Paul viviam com os filhos Mila e Adam. 

Myriam era uma advogada promissora quando abandonou a carreira para cuidar de sua primeira filha, Mila, com total apoio do marido. Com a chegada do caçula, Adam, Myriam se vê cada vez mais envolvida na rotina familiar e afastada da vida profissional. Vista como privilegiada por poder acompanhar a infância dos filhos, não é assim que ela se sente. Mas como uma mãe pode dizer em voz alta que a maternidade não é responsável por 100% de suas realizações? Que ela gostaria de estar trabalhando e não enfiada 24 horas por dia com fraldas, chorros e brincadeiras infantis? Esse é um assunto delicado que a autora propõe para reflexão ao descrever a vida de Myriam. A sociedade cobra um posicionamento das mães, como que fosse absurdo ou falta de amor elas quererem trabalhar e não se dedicarem exclusivamente aos filhos. Dilemas e dúvidas das mães modernas... 

Mas chega o dia em que Myriam decide retomar sua carreira, mesmo não contando com total aprovação do marido. Um casal que nunca deixou as crianças aos cuidados de ninguém, começa um detalhado processo de seleção de babás. Nenhuma satisfaz as exigências dos pais, até que eles entrevistam Louise. A pequena e delicada Louise parece ser um presente do universo para eles. Dedicada, cuidadosa, experiente. Além de cuidar com carinho das crianças, ainda deixa o pequeno apartamento do casal arrumado e faz refeições deliciosas. Os amigos invejam o casal por terem alguém tão competente a serviço deles. E Louise vai cada vez mais se tornando indispensável na vida da família... 

Mas o que prende o leitor pelas 191 páginas, uma vez que no início da história já sabemos que a babá matou as crianças e tentou suicídio? Qual é o grande mistério? Bom, o que me prendeu foi justamente a incoerência de alguém tão dedicado ter atentado contra a vida das crianças pelas quais demonstrava carinho e cuidado. Onde foi que a coisa desandou? Em que momento a loucura de Louise se manifestou e por que? Embora em alguns momentos Louise deixe escapar algumas palavras ou atitudes que poderiam ser um alerta de um comportamento obsessivo, os pais não percebem que algo está errado. 

Canção de Ninar fala também da relação entre patrões e empregados, relações de dependência, diferença entre classes. Todos esses temas são abordados enquanto o leitor é conduzido a longo da história da família até o final trágico. 

Imagem relacionadaA autora, Leila Slimani, é uma escritora marroquina que vive em Londres desde os 17 anos. A inspiração para a tragédia que abate a família no livro veio de um caso real acontecido nos Estados Unidos, onde uma babá matou duas crianças, tentou se matar, mas sobreviveu e foi a julgamento.

Canção de Ninar deu a Leila o Prêmio Goncourt de romance, o mais prestigioso da França, em 2016 e a boa notícia para o leitores brasileiros é que a autora é presença confirmada na Flip 2018 que acontecerá de 25 a 29 de julho em Paraty. 

16 de abr. de 2018

Resenha: Zen para distraídos

Zen para distraídos
Monja Coen e Nilo Cruz
Academia, 2018

SINOPSE:
Viver nos grandes centros urbanos é um convite diário à distração. Manter o foco em tarefas simples, por mais fácil que pareça, se torna impossível com o excesso de informações e afazeres diários. Zen para distraídos aplica conceitos do budismo para melhorar o nosso bem-estar. A partir de práticas de meditação, de conceitos básicos do zen e outras técnicas milenares será possível manter o foco, desenvolver tarefas simples com muito mais concentração, ser mais assertivo, atingir objetivos e muito mais.

O livro Zen para distraídos tem como material o programa Momento Zen apresentado pela Monja Coen na Rádio Mundial. No início do livro é explicado ao leitor como surgiu o programa na rádio e a parceria dela com Nilo Cruz (autor do livro). Tanto o programa como livro tem o objetivo de levar os conhecimentos do Zen Budismo para as pessoas com uma linguagem simples e acessível. 

O livro é gostoso e fácil de ler. São apresentados conceitos básicos do budismo, mas a leitura é indicada para qualquer pessoa que tenha o desejo de viver mais leve, priorizando o aqui e agora, independente de religião. Pessoas que buscam o autoconhecimento, a paz interior, o equilíbrio.

Eu sou praticante de meditação, mas com outras técnicas diferentes das propostas pela monja, mas um ponto em comum em todas as formas de meditação é a importância de aprendermos e treinarmos nossa mente para viver no presente, não se apegando ao passado e nem projetando e gerando ansiedade com o futuro.

No livro são reproduzidos alguns diálogos entre ouvintes do programa da rádio e a monja e são momentos bem legais, pois demonstram ali as dúvidas e inseguranças de todos nós.  Momentos reais de interação entre o leigo e a monja com todo seu conhecimento. Durante as explicações, a Monja cita seus antigos professores e os grandes mestre do Budismo, faz analogias com o surfe e com o futebol e conta sobre sua experiência com o Zen Budismo. Tem um pouquinho de tudo!

Zen para distraídos pode ser uma porta de entrada para a busca de novos e mais aprofundados conhecimentos. Eu, particularmente, indico a meditação a todos. Quem sabe ao ler esse livro, você também não descobre que viver o presente com harmonia pode ser sensacional!