16 de nov. de 2016

Resenha: O órfão de Hitler

O órfão de Hitler
Paul Dowswell
2016, Editora Planeta

SINOPSE:
Polonês e órfão em seu país, que acaba de ser dominado pelos nazistas. Isso seria praticamente uma sentença de morte para qualquer um durante a Segunda Guerra Mundial, mas Piotr Bruck é salvo por ser filho de alemão e ter um tipo físico que o torna um modelo da superioridade germânica.
Acolhido pela família de um professor de ciência racial no Instituto Kaiser Wihelm de Antropologia, Hereditariedade e Eugenia, Piotr vai para Berlim e lá se torna Peter Bruck. É por meio de seu olhar que o leitor testemunha o fanatismo de jovens e velhos nazistas, sente o medo da delação e da prisão pelas menores críticas, se revolta com a crueldade exercida contra os povos derrotados, os dissidentes e os judeus.
Mas, em meio ao fanatismo, ao medo e à crueldade, ainda há pessoas que conseguem enxergar a tragédia que está acontecendo e reúnem coragem para ajudar os perseguidos. Nesse mundo construído sobre mortos, a decisão de manter a dignidade como ser humano transforma as pessoas em heróis. E esta é a decisão de Peter Bruck.

Livros e histórias sobre esse período vergonhoso da história da humanidade são sempre tristes e impactantes. São em momentos de leitura como a desse livro de Paul Dowswell que nos aproximamos do pensamento nazista e ficamos chocados com ações e posturas de famílias inteiras que seguiram as diretrizes de Hitler. O órfão de Hitler é uma história de ficção, mas baseada em fatos reais estudados pelo autor. 

Peter, nascido Piotr na Polônia, viu seus pais serem assassinados na Guerra e levado como órfão para uma instituição de crianças. De lá, foi levado para uma seleção racial, onde viram nele um exemplar da raça ariana. Encaminhado para uma família alemã em Berlim, Peter começa uma nova vida como alemão e começa já de início a sentir as diferenças e fortes preconceitos que os povos sofrem. 

" Proibida a entrada de poloneses, judeus e cães"
Placa em um estação de trem

Peter começa a estudar e a tentar se enquadrar ao máximo na rotina da família alemã, mas não consegue evitar de sentir-se estranho ao ver o fanatismo das irmãs adotivas, a adoração a Hitler como se fosse uma entidade religiosa e a repreensão a qualquer expressão de questionamento ou dúvida ao que é pregado na escola e na família. E esse sentimento vai crescendo cada vez mais...

Lendo essa história, eu me choquei diversas vezes com passagens que defino como repugnantes. A doutrina utilizada para formar os jovens, impregnada dos conceitos de superioridade e da proibição de relacionar com não puros (a inaceitável forma de sujar a raça e gerar seres inferiores). Termos usados para nomear os não alemães, pais e mães acreditando na normalidade do tratamento sub-humano dado aos judeus, crianças cantando versões de adoração a Hitler e até árvores de Natal orgulhosamente decoradas com suásticas brilhantes.

"Noite feliz, noite feliz,
Eis que o ar, vem cantar
Adolf Hitler ergueu o país
Ouçam bem o que Führer diz...

Olhando para os rostos compenetrados dos outros cantores, via que acreditavam naquilo no fundo de suas almas. De repente, ele se sentiu muito solitário. Quanto mais pensava naquilo, mais o incomodava.(...) Alguma coisa nele não podia aceitar a adoração inquestionável, essa perturbadora fé cega que tinham em Hitler e nos nazistas.

O que traz um pouco de alívio é quando Peter encontra alemães que se arriscaram para ajudar os perseguidos. É bom imaginar que dentro de toda aquela insanidade, haviam pessoas que mantiveram a clareza de pensamento e sua humanidade e correram severos riscos com suas atitudes. Como a história é relatada do ponto de vista de Peter, temos a oportunidade de conhecer lados diferentes da história. Durante a leitura, você fica apreensivo com as ações de Peter, com medo dele ser pego e das consequências de seus atos. Você torce por ele como se fosse algo real acontecendo agora.

Esse é o tipo de livro que precisamos ler de vez em quando para sempre nos lembrarmos do perigo da fé cega, da aceitação plena e do não questionamento. Eu indico O órfão de Hitler para todos.. aos que gostam de ler sobre o tema e também ao que não se interessam por ele, pois juntando ficção com situações históricas, o autor consegue nos passar a mensagem de uma forma mais fácil, mas sem perder seu impacto.